sexta-feira, 8 de julho de 2011

Tecnologia é o futuro para Lages

Lages, 8/07/2011, Correio Lageano por Thomas Michel


Paccar, Riwa, ZF, Gomes da Costa, CBC... O lageano que acompanha o noticiário sabe que os nomes citados são promessas de novas indústrias para Lages. Mais que indústrias, são novos empregos e a esperança do aumento da renda. De confirmado há a Flex, empresa de call center, e a Chocoleite, que apresentarão seus planos de trabalho nesta sexta-feira.


Depois do ciclo da madeira, que terminou nos anos 60, Lages teve vários altos e baixos em sua economia. Comparado com a década de 80, os anos 2000 reservaram uma queda de 18% na dimensão da renda dos lageanos, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).


Para se ter uma ideia da renda, a ocupação que teve maior saldo de geração de empregos em Lagesneste ano foi a de trabalhador no cultivo de árvores frutíferas, que tem um salário médio de R$ 597,84. Entre as cinco ocupações que mais contrataram este ano, todas têm salário médio menor que R$ 700.


O secretário estadual de Assuntos Estratégicos, Paulo César da Costa afirma que o trabalho para trazer empresas é justamente para que se aumente a renda do lageano, e que também vai ser criado um programa de treinamento na Serra Catarinense para, principalmente, mulheres e jovens.


“A renda em Lages é mais baixa, mas aqui também menos pessoas na família trabalham, e, a intenção é que com mais pessoas trabalhando na família, possam consumir mais”, explica. Segundo ele, o projeto vai abranger cerca de 10 mil pessoas.


Na esfera municipal, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Lages, Dilmar Antônio Monarim, acredita que precisa haver uma mudança de cultura no empreendedorismo do lageano. “Quando sobra um dinheiro, a 

pessoa investe em uma loja, ou uma lanchonete, não em uma indústria, porque acha que o negócio é muito arriscado”. Ele explica que a base de empregos lageana é o comércio, que oferece salários baixos e é muito volátil.


Tendo esse pensamento como premissa, ele diz que a intenção é que os investimentos sejam direcionados para a criação de indústrias e não de comércio, para que se aumente a renda da população. “Quando se tem uma indústria forte, que paga bem, o comércio melhora por si só”, afirma.


Segundo dados do Ministério do Trabalho, em 2010, o comércio é responsável por cerca de 8 mil postos de trabalho, dividindo a primeira posição em número de empregos com o setor madeireiro, que, apesar de ter seu auge há mais de meio século, ainda exerce muita influência na economia lageana.


O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lages, Carlos Luiz Peron, diz que da cidade “só se tira, e nada se transforma”, quando a questão é madeira. Ele, assim como Monarim, acham que pouco valor é agregado à madeira dentro da cidade. “O dinheiro que poderia vir para cá, é aplicado em outras regiões”, diz Peron.


A intenção de Monarim é que a madeira fique em segundo plano nos novos investimentos da cidade. Segundo ele, o nicho de mercado que está sendo priorizado é o de tecnologia e inovação. “Temos o projeto do Parque Órion, além da Midi Lages que é incubadora de empresas de tecnologia”.


Monarim diz que empresas de tecnologia têm incentivo da prefeitura para crescer e para se implantar na cidade. No plano estadual, Paulo César da Costa afirma que a preferência é para este nicho de mercado.


O gerente da MidiLages, Carlos Eduardo de Liz explica que o investimento em tecnologia pode aumentar substancialmente a renda do lageano. “O salário médio de alguém que trabalha comtecnologia é de 3 a 5 vezes maior do que o empregado do comércio”, diz. Carlos cita o caso de Florianópolis, onde hoje a tecnologia é responsável pela maior fatia do PIB, ultrapassando inclusive o turismo, muito forte na capital.


Além disso, cita outras vantagens, como custo financeiro de produção de tecnologia, que é muito baixo. No caso dos softwares, “depende apenas do conhecimento técnico”. Segundo ele, o investimento é menor e o retorno mais rápido, por isso, de menor risco que outros negócios.


Ele explica que também há exceções. É o caso do desenvolvimento de tecnologia industrial, que envolve investimento alto, devido ao material utilizado. Carlos diz que o mercado de tecnologia se desenvolve rápido em Lages, e que, hoje, em alguns segmentos já falta mão de obra. “Profissionais da tecnologia da informação estão faltando no mercado. Dentro da MidiLages, todas as empresas precisam de funcionários, mas não acham”, explica.


Infraestrutura é o principal entrave para novos investimentos


O secretário estadual de Assuntos Estratégicos, Paulo César da Costa, disse, em entrevista aoCorreio Lageano, na edição do dia 21 de junho, que “não estamos perdendo investimento para outros lugares e sim para nós mesmos”. A frase sintetiza o problema de infraestrutura que prejudica o estabelecimento de novas empresas em Lages.


O secretário de Desenvolvimento Econômico de Lages, Dilmar Antônio Monarim, explica que os empresários que vêm conhecer Lages gostam da cidade, mas o investimento esbarra na estrutura. “Falta, ao menos, uma rodovia duplicada, seja ela a BR-282, a SC-470 ou mesmo a BR-116. Além disso temos problema com o aeroporto, que impede bastante o desenvolvimento da região”, explica.


Segundo Monarim, se os problemas fossem sanados, Lages poderia ‘estourar’ como potência econômica. “A cidade é ponto estratégico, fica bem no centro do Mercosul”. Costa diz que a duplicação da SC-470 já está sendo encaminhada pelo governo, mas alerta que a BR-282 também tem de seguir o mesmo caminho. “Historicamente, quando a SC-470 foi asfaltada, antes da BR-282, todo o tráfego era desviado por ela, o que atrasou o desenvolvimento de Lages”.


Para os exportadores, existem cinco portos há menos de 300km da cidade. Além disso a ferrovia do tronco sul também passa pela cidade, e há o projeto da rodovia Bioceânica, que liga Florianópolis até o porto de Iquique, no Chile.


Há técnicos, mas faltam engenheiros


Existem dois Cedup, IFSC, Senai e Senac para a formação de técnicos em várias áreas. Mas as três universidades instaladas em Lages ainda não conseguem suprir a necessidade de engenheiros dasindústrias.


O diretor do Senai, Telmo Coelho, diz que não há engenheiros porque várias turmas ainda não se formaram. “Daqui algum tempo teremos profissionais de nível superior para trabalhar nestas áreas”.


Dilmar Monarim avalia que a principal carência está na área da construção civil, onde faltam engenheiros nesta área. O diretor do Senai avalia que, para instituições particulares, são cursos muito caros, e que, se necessitaria da instalação de faculdades públicas de engenharia na região.


Paulo César da Costa diz que o governo está negociando com a Udesc para que se traga cursos detecnologia e engenharia para o campus de Lages. “A Udesc trabalha com a vocação das regiões, mas isso pode ser revisto”.


Telmo afirma que a formação técnica que trabalha na construção também é baixa, mas o motivo é outro: “não há interesse”. “O problema talvez não seja a falta de instituições de ensino em Lages, mas sim de material humano. O jovem que sai do segundo grau não tem perspectiva de entrar imediatamente no mercado de trabalho”.


Mesmo assim, o Senai vai expandir sua estrutura, para suprir toda a necessidade da indústria local. Sinal de que a indústria também está se expandindo. No agronegócio, Carlos Luiz Peron diz que faltam cursos por parte do Sistema de Ensino Nacional de Aprendizagem Rural. “Não há qualificação de operadores de máquinas agrícolas”, exemplifica.


Incentivos fiscais e estruturais para atrair indústrias


Entre as negociações para a vinda de uma empresa, há vários incentivos que o poder público pode conceder, dependendo de alguns aspectos que ela possa vir a contribuir com a cidade, como número de empregos e quantidade de investimento. Na esfera estadual, estes incentivos geralmente vêm na redução, ou às vezes, mesmo a isenção de impostos, para que as empresas se instalem.


Já o município também pode reduzir impostos, mas somente os municipais, que têm pouco impacto no orçamento das grandes empresas. Dilmar Antônio Monarim explica que geralmente as indústriaspreferem receber terrenos para sua instalação. “Existe uma parceria do governo estadual, com o municipal para que seja feita a compra de vários terrenos”.


Ele explica que a doação se dá da seguinte forma: a empresa se compromete a se instalar, e o terreno é ‘emprestado’ à nova indústria por 10 anos. Se ela continuar fazendo uso para o mesmo fim depois desse período, ela recebe a escritura.


“Antigamente a escritura era dada para qualquer indústria, e ela poderia fazer especulação com o terreno doado pelo poder público”, explica Monarim. “Por esse motivo é que a área industrial (na BR-116) está um pouco sucateada”. Para quem já tem empresa consolidada, Monarim explica que o município oferece incentivos fiscais em certas situações. “A intenção é desenvolver as indústrias que já existem”.

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